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Retrospectiva 2023: 6 acontecimentos que reforçam a importância da educação midiática

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AutorMariana MandelliCoordenadora de comunicação Sobre o autor

Dos ataques golpistas à crise climática, catástrofes recentes têm em comum cenário de desinformação

2023 foi o ano em que a educação midiática ganhou espaço inédito no debate público, passando a fazer parte do discurso de autoridades e da estrutura do governo federal, com a criação do Departamento de Direitos na Rede e Educação Midiática como parte da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República. Estes avanços foram extremamente importantes, visto que os desafios do mundo conectado se complexificam cada vez mais, com novas tecnologias sofisticadas surgindo e se popularizando em uma velocidade inédita.

Nesse sentido, o ano também foi de muitos obstáculos. Pensando nisso, selecionamos alguns dos acontecimentos mais relevantes de 2023 que reforçam a importância de avançarmos na construção e implementação de políticas públicas sustentáveis de educação midiática, apoiando o desenvolvimento de habilidades e competências para que possamos enfrentar todas essas — e as futuras — questões do ambiente informacional da melhor forma possível.

Atos antidemocráticos: o Brasil assistiu estarrecido às cenas de depredação do patrimônio público e de ataque à democracia em 8 de janeiro. Desrespeitando o resultado das urnas em outubro de 2022 e inflamados por uma avalanche de desinformação eleitoral, discursos extremistas e teorias de conspiração, milhares de golpistas invadiram e atacaram prédios públicos símbolos de Brasília (DF), como o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal. O cenário que levou a tal episódio é complexo e demanda muitas ações, mas certamente a educação midiática tem a contribuir na construção de um contexto informacional menos poluído, em que todos os cidadãos compreendem sua responsabilidade ao criar ou compartilhar conteúdos.

Inteligência artificial: a rápida popularização do ChatGPT surpreendeu o mundo e provocou debates acalorados sobre a autoria de textos no cotidiano de escolas e universidades, o futuro do trabalho criativo e intelectual e a originalidade de obras literárias e artísticas, além de gerar teorias alarmantes sobre o fim da humanidade. Porém, não foi só o chatbot que mostrou o ainda indecifrável potencial da inteligência artificial: a criação de nudes falsos de adolescentes por colegas de classe em colégios brasileiros, por exemplo, foi bastante reveladora da urgência de estabelecermos regras inclusive para o desenvolvimento e entendimento dos benefícios que essas mídias sintéticas podem trazer.

Guerras: a disputa de narrativas é comum em embates geopolíticos mas, no contexto de hiperabundância de informações em que vivemos, isso ganhou uma escala de dimensão quase inimaginável. Além da guerra na Ucrânia, que completou um ano em fevereiro, o mundo tem assistido diariamente, desde 7 de outubro, ao conflito entre Israel e o Hamas registrar recordes de feridos e vítimas fatais na Faixa de Gaza. Se, por um lado, há dificuldade em obter informações jornalisticamente equilibradas, as redes sociais foram inundadas por imagens fakes ou tiradas de contexto, o que torna acompanhar os fatos uma atividade cada vez mais dificultosa. A educação midiática, nesse caso, prepara leitores mais reflexivos e com habilidades para “interrogar” a informação ao invés de simplesmente consumir tudo o que chega até nós.

Ataques nas escolas brasileiras: 2023 registrou a triste e inédita marca de 11 ataques a escolas brasileiras entre janeiro e outubro, de acordo com um relatório do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral), composto por pesquisadores da Unicamp e da Unesp. Para esses especialistas, é fundamental combater a toxicidade dos conteúdos radicais consumidos pelos agressores em comunidades online, bem como controlar o uso de mídias sociais por crianças e adolescentes.

Jogos online, apostas e golpes digitais: uma reportagem do Fantástico, exibida em dezembro, causou furor ao denunciar, por supostas atividades ilegais, a Blaze, uma plataforma digital de jogos de apostas que mantinha contratos de publicidade com influenciadores. O tema “apostas online” foi bastante recorrente durante o ano, gerando inclusive uma discussão no Congresso sobre a regulamentação dessa prática no campo esportivo. Ademais, o Brasil figurou como um dos países com mais crimes e fraudes virtuais em 2023, algo que requer vigilância e senso crítico constantes, considerando o grau cada vez mais avançado de sofisticação que os golpes alcançam. 
Aquecimento global: ciclones, chuvas torrenciais e ondas de calor extremo colocaram a metereologia entre os assuntos mais comentados no noticiário e nas mídias sociais no País. Cada vez mais frequentes, as catástrofes ambientais também geram uma onda de desinformação baseada em negacionismo e conspiracionismo, o que demanda o fortalecimento do jornalismo de qualidade sobre meio ambiente e de iniciativas de educação científica e midiática como pilares de um planeta mais sustentável.

É claro que estes são problemas complexos que precisam ser enfrentados por ações variadas e diversos atores, mas a educação midiática tem sua parcela de contribuição ao preparar a sociedade para uma relação mais responsável, segura e ética com as informações.

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Mariana Mandelli

Coordenadora de comunicação

Mariana Mandelli é coordenadora de comunicação do Instituto Palavra Aberta.