Muito tempo tem sido dedicado ao mapeamento dos fenômenos midiáticos que nos afligem, como fake news e outros tipos de desinformação, discursos de ódio, amplificação de preconceitos a partir de mensagens que circulam velozmente pela internet, falta de representação nas mídias e tantos outros. Mas poucas vezes falamos de forma clara e objetiva sobre o conjunto básico de habilidades e ferramentas que nos ajudam a enfrentar tal cenário em qualquer idade e contexto.
Entender a educação midiática como esse amplo “toolkit” — que nos prepara para lidar com as informações de maneira reflexiva, responsável e segura durante toda a vida — foi a tônica de um evento que reuniu importantes referências nacionais e internacionais da área no dia 25 de maio, em São Paulo.
“O propósito da educação midiática é ajudar as pessoas de todas as idades a desenvolver o hábito da interrogação (das informações) e as habilidades de expressão necessárias para que sejam pensadores críticos, comunicadores eficazes e cidadãos ativos”, destacou Michelle Ciulla Lipkin, diretora-executiva da Namle. “É um amplo guarda-chuva que diz respeito a empoderamento, engajamento e participação.”
A Namle (National Association for Media Literacy Education) é a principal associação do setor nos Estados Unidos e vem atuando desde 1997 na promoção da educação midiática. Com mais de 8.000 membros, a Namle tem influência além das fronteiras norte-americanas, principalmente pelo trabalho de “trocar em miúdos” quais são, afinal, os princípios fundamentais da educação midiática.
Inicialmente definidos em 2007, os princípios foram atualizados este ano e servem como importante farol para quem se dedica ao tema. Dentre os 10 princípios recém-anunciados está a ideia de que a manutenção de um ambiente midiático saudável do ponto de vista do bem comum é responsabilidade compartilhada entre empresas de mídia e de tecnologia, governos e cidadãos.
Para a Namle, a educação midiática leva a sociedade a reconhecer seus próprios vieses, entendendo que todos nós usamos nossa história, habilidades e crenças pré-existentes para dar sentido às experiências que vivenciamos a partir das mídias. Também reconhece que as instituições de mídia influenciam e são influenciadas por sistemas de poder, com implicações sobre equidade, inclusão, justiça social e sustentabilidade.
Estamos tão imersos no ambiente de superabundância de informações que, muitas vezes, não nos damos conta de como elas moldam nossa visão de mundo e balizam nossas decisões. Isso não é pouca coisa — e é por isso que a educação midiática propõe a expansão do próprio conceito de alfabetização, incorporando novos formatos de mídia e múltiplas habilidades para a formação de consumidores e produtores de conteúdo mais conscientes.
“Educação midiática não é algo que se ensina em uma lição. É uma série de pequenos passos que conduz as pessoas por uma jornada de empoderamento, de modo que se tornem cidadãos ativos”, disse Michelle.
De uma abordagem mais voltada à proteção contra a violência nos anos 1970, a educação midiática vem incorporando novos temas desde então. Esse é um ciclo que não pode parar e, ainda que a educação midiática não seja a bala de prata para todos os males, é um ingrediente essencial no conjunto de políticas públicas, projetos de empresas e da sociedade civil, além de ações individuais, que precisam se combinar em prol de um ambiente informacional mais saudável.