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Crianças e celulares: entre proibir e liberar

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AutorBruno FerreiraCoordenador pedagógico Sobre o autor

Determinação do governo chinês de restringir tempo de uso para crianças e adolescentes reacende debate sobre quem deve disciplinar o uso desses dispositivos

Mulher olhando para a tela do celular

A notícia de que a China quer limitar o tempo de uso de smartphones para jovens de até 18 anos esquentou um debate que já faz parte do cotidiano de muitas escolas e famílias. A proposta da Administração do Ciberespaço da China (ACC), órgão regulador da internet no país, propõe uma escala de tempo de acordo com a idade: oito minutos por dia para crianças menores de 8 anos; uma hora para a faixa etária entre 8 e 16 anos e duas horas para quem tem entre 16 e 18 anos. Além disso, os que têm menos de 18 seriam proibidos de manusear dispositivos móveis entre 22h e 6h da manhã.

A imposição de limites na relação entre crianças e celulares é alvo de discussão em diversas áreas. Na educação, por exemplo, algumas redes de ensino estão vetando os aparelhos, como anunciou nos últimos dias a Prefeitura do Rio de Janeiro, cujo decreto contempla o uso apenas para atividades pedagógicas. Em relatório recente, intitulado A Tecnologia na Educação: uma Ferramenta a Serviço de Quem?, a UNESCO mostrou que cerca de um em cada quatro países adota alguma política relacionada à restrição de telefones móveis em sala de aula. 

No texto, a organização ressalta que “privar os estudantes das tecnologias novas e inovadoras pode colocá-los em desvantagem”, mas reconhece que essas podem ter um impacto negativo se seu uso for inadequado ou excessivo. Também menciona que, segundo dados do Programme for International Student Assessment (PISA), a proximidade a aparelhos celulares pode distrair estudantes, causando impactos à sua aprendizagem, em 14 países. 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que crianças de até quatro anos de idade não passem mais de uma hora por dia expostas a telas e que crianças de até dois anos não tenham nenhum contato com elas. No entanto, o relatório da UNESCO citado anteriormente demonstra que o tempo de exposição de crianças a esses aparelhos aumentou significativamente nos últimos anos. 

“Uma pesquisa sobre o tempo passado em frente à tela entre pais de crianças de 3 a 8 anos na Austrália, China, Itália, Suécia e nos Estados Unidos constatou que a exposição de seus filhos à tela aumentou em 50 minutos durante a pandemia, tanto para a educação quanto para o lazer”, afirma um trecho. 

Diante de tantas evidências acerca dos malefícios que o uso de celulares pode acarretar para a saúde física, mental e para a aprendizagem de crianças e adolescentes, a solução seria proibir seu uso ou ainda relegar a governos, como o caso da China, a sua limitação aos mais jovens? 

É impossível afirmar que o uso do celular na escola não seja um problema. Trata-se de um grande obstáculo para muitas situações de ensino e aprendizagem, pois provoca inúmeras distrações e distúrbios que equipes pedagógicas presenciam todos os dias. No entanto, declarar guerra aos aparelhos não parece uma boa ideia.

Certamente, é dever da família e também das unidades de ensino disciplinar o uso. Não é porque celulares estão ao alcance das mãos que devemos usá-los a todo momento, indiscriminadamente. É preciso definir em que momentos e com qual propósito faz sentido usá-los. É necessário que haja regras mais claras e, de preferência, construídas com as crianças e adolescentes, em casa e na escola, com adultos informados sobre os riscos da exposição digital na primeira infância e dando bons exemplos do uso equilibrado e qualificado dos dispositivos no dia a dia. A partir disso conseguiremos aproveitar, sem prejuízo à saúde dos estudantes, as inovações tecnológicas que não podem ser preteridas no projeto de aperfeiçoamento das práticas pedagógicas e da expansão do direito à educação.


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Bruno Ferreira

Coordenador pedagógico

Jornalista e professor. Mestre em Ciências da Comunicação e especialista em Educomunicação pela ECA/USP. Possui licenciatura em Educação Profissional de Nível Médio, pelo IFSP. Atuou como professor de Comunicação e Desenvolvimento Social, no Senac-SP, como consultor de alfabetização midiática e informacional da UNESCO e formador de professores de redes públicas de ensino.