A superabundância de informações a que estamos expostos diariamente é um desafio ao senso crítico. Desinformação e discurso de ódio, além de imagens e textos gerados por inteligência artificial com as mais diversas intenções, opiniões disfarçadas de fato e propagandas que distorcem causas são alguns dos fenômenos que exigem de todos nós o desenvolvimento de novas habilidades para consumir, criar e compartilhar conteúdos de maneira mais reflexiva e responsável.
A esse conjunto de competências, tão necessárias para participarmos plenamente da sociedade conectada, damos o nome de educação midiática. O campo é tão relevante que, desde 2011, vem sendo celebrado mundialmente pela Unesco — e em 2023 contará também com uma edição brasileira organizada pelo governo federal a partir de 23 de outubro.
Neste ano, a celebração da Unesco destaca o caráter coletivo da educação midiática nos ambientes digitais, explorando os caminhos possíveis para integrar esses novos letramentos a políticas e produtos. O evento é uma oportunidade para conscientizar governos, organizações da sociedade civil, educadores e outros agentes sobre a importância e a urgência do tema, além de inspirar a partir de práticas já realizadas em diferentes partes do mundo.
“Com a disseminação de rumores e a distorção de fatos, a fronteira entre o que é falso e o que é confiável tem se tornado nebulosa. Isso afeta os pilares de nossas sociedades e democracias e coloca vidas em risco, por meio da propagação de curas que não existem, teorias da conspiração sobre vacinas ou práticas de racismo e discurso de ódio”, destaca a diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, ao promover a semana. “Diante da avalanche de informações, precisamos de mais pontos de referência e de mais pensamento crítico. E é por isso que a educação midiática e informacional é uma competência essencial para os cidadãos do século 21.”
No Brasil, educadores, pesquisadores e organizações já vinham acompanhando a celebração nos últimos anos. Desta vez, porém, uma agenda oficial marcará a primeira edição da Semana Brasileira de Educação Midiática, diante do entendimento de que o exercício da cidadania passa pela construção de um ambiente informacional mais seguro e confiável. As atividades, lideradas pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República com apoio de diversas entidades (entre elas, o Instituto Palavra Aberta), contemplam a realização de seminário presencial, webinários com especialistas e um convite para que educadores relatem ações e projetos ligados ao tema, com o objetivo de mapear o alcance da educação midiática no país.
Também estão disponíveis materiais como planos de aula, vídeos e cartilhas sobre combate à desinformação e a discursos de ódio, cyber-resiliência e criação de contra-narrativas, elaborados pelos parceiros da semana nacional — além do Palavra Aberta, participam da iniciativa Unesco, SaferNet Brasil, Redes Cordiais, Instituto Vero e Intervozes.
Dar visibilidade a ações de educação midiática, assim como disponibilizar materiais para quem está interessado em desenvolver projetos na área, é um caminho importante para que essa prática se consolide como política pública, contribuindo para a construção de um ambiente informacional mais seguro e saudável, dentro e fora da internet.