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Nem todo conteúdo enganoso ou irreal é Fake News!

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AutorBruno FerreiraCoordenador pedagógico Sobre o autor

As intenções por trás dos conteúdos que acessamos na internet são diversos e nem sempre uma mensagem falsa tem como objetivo enganar o público.

📸: iStock

Já vimos por aqui que as fake news são mentiras inventadas com a intenção de enganar o público e prejudicar a imagem de pessoas ou instituições. Podemos considerá-las como o tipo mais radical de desinformação, justamente porque a fake news é 100% falsa. Mas entre o que é totalmente falso e o completamente verdadeiro, há muita variação. 

A desinformação é justamente essa variedade de conteúdos que podem ser verdadeiros, mas manipulados para enganar ou para distorcer um acontecimento ou um assunto. Ou podemos ainda estar diante de um falso acontecimento, mas que não tem propriamente a intenção de enganar.

Vamos conferir alguns exemplos para deixar isso tudo mais claro. É provável que você se lembre do triste rompimento das barragens, na cidade de Brumadinho, em janeiro de 2019. Aquele episódio gerou uma grande comoção e muitas imagens começaram a circular na internet como se tivessem sido desse acidente.

Duas parlamentares, na ocasião, postaram em suas redes sociais mensagens de solidariedade e preocupação com o episódio. E junto delas, publicaram imagens que atribuíram ao acidente. Apesar de as imagens usadas por elas em suas postagens serem reais, elas estavam fora de contexto, pois não retratavam ao que houve em Brumadinho. 

Uma delas publicou imagens do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, mas em outros episódios, anteriores ao rompimento da barragem. Já o vídeo compartilhado pela outra diz respeito ao rompimento de uma barragem de uma hidrelétrica no Laos, que é um país do Sudeste Asiático. 

Esse tipo de confusão é comum quando tragédias como essa acontecem. Algumas pessoas acabam compartilhando imagens fora de contexto com a intenção de alertar ou homenagear quem está atuando no resgate de vítimas, por exemplo. Acreditamos que essa tenha sido a intenção das parlamentares em questão.

Outras pessoas, por outro lado, têm o propósito de piorar ainda mais a impressão de um fato que já é trágico e, assim, fazem circular imagens ainda mais chocantes. Mas para não cair nesse tipo de apelo, é fundamental acompanhar coberturas de fatos pela imprensa profissional, que geralmente faz imagens no local da tragédia ou as coleta de pessoas ou câmeras de sistemas de segurança, por exemplo, que sabem que realmente registraram um determinado acontecimento.

Há ainda conteúdos que não são falsos nem verdadeiros, nem mesmo tirados de contexto, como o exemplo anterior. São apenas piadas, como os conteúdos do site Sensacionalista, que têm aparência de notícia, mas que podem confundir pessoas que não percebem a ironia presente em seus textos ou que simplesmente desconhecem a intenção do site de divertir o público.

Dois exemplos desse site são bastante ilustrativos a começar por seus títulos: “Supermercados instalam centros cirúrgicos para cliente poder deixar o rim” e “Montadora lança carro com tanque de 5 litros para brasileiro voltar a ter o prazer de dizer: ‘pode completar’”.

Esses conteúdos não podem ser considerados fake news, pois o intuito deles não é fazer as pessoas acreditarem piamente que os supermercados terão centros cirúrgicos ou que os tanques dos carros serão mais robustos, mas apenas fazer piada de uma situação: a dificuldade econômica atravessada pelo país.

Apesar de situações como essa, mensagens intencionalmente mentirosas – e estas sim, podem ser chamadas de fake news – circulam bastante pelas redes sociais e aplicativos de mensagem. Uma delas foi um falso comunicado atribuído à previdência social que dizia, no início da pandemia, em abril de 2020, que idosos que fossem flagrados na rua perderiam suas aposentadorias e suas famílias seriam penalizadas por isso. Trata-se de uma invenção lastimável para enganar pessoas.

Ainda que alguns ainda enxerguem uma boa intenção nisso, que foi estimular que essas pessoas ficassem em casa, protegidas do coronavírus, a estratégia de mentir foi bastante infeliz, pois provocou o medo e não a sensibilização para o problema que estávamos vivendo à época.

Tratamos neste artigo de apenas alguns exemplos, mas existem outras variações de desinformação, que pode causar problemas reais. Uma mentira completa ou um dado manipulado podem provocar consequências sérias. Podemos punir pessoas sem culpa, ter uma crise agravada pelo pânico da população ou ainda ter ódio e preconceitos alimentados por falsas afirmações ou falas e imagens tiradas do seu contexto original. 

Por isso, questionar a informação antes de repassá-la e verificar sua confiabilidade é um hábito urgente que devemos colocar em prática no nosso dia a dia. Para saber mais a respeito, convidamos você a acessar os materiais do módulo 3 do programa EducaMídia60+.

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Bruno Ferreira

Coordenador pedagógico

Jornalista e professor. Mestre em Ciências da Comunicação e especialista em Educomunicação pela ECA/USP. Possui licenciatura em Educação Profissional de Nível Médio, pelo IFSP. Atuou como professor de Comunicação e Desenvolvimento Social, no Senac-SP, como consultor de alfabetização midiática e informacional da UNESCO e formador de professores de redes públicas de ensino.