Uma confluência de acontecimentos favorece o debate sobre uso mais moderado das telas, principalmente por crianças e adolescentes. A discussão é mais do que bem-vinda, mas estamos perdendo a oportunidade de também discutir como a educação pode preparar os jovens para que, gradativamente, desenvolvam as habilidades e a autonomia necessárias para o uso equilibrado, seguro e responsável das tecnologias digitais por toda a vida.
Em diversas partes do mundo pipocam iniciativas pela proibição de celulares nas escolas, muitas delas no embalo do já famoso livro “A Geração Ansiosa”, do psicólogo social Jonathan Haidt. Ele sustenta que a saúde mental da geração Z (pessoas nascidas após 1995) tem se deteriorado de maneira mais acentuada a partir de 2010, em função, principalmente, do uso excessivo dos smartphones.
Sua receita para enfrentar esse cenário tem quatro passos: nenhum smartphone antes dos 14 anos, nenhuma rede social antes dos 16 anos, proibição de celulares na escola e uma infância menos vigiada e com mais brincadeiras no mundo real.
Se o diagnóstico de Haidt foi abraçado celeremente por diversas famílias, escolas e gestores, também não faltaram críticas. A professora de Psicologia Candice L. Odgers, da Universidade da Califórnia, tem sido uma das vozes mais contundentes a difundir que não há base científica nos achados de Haidt.
Em comum nesse debate está o reconhecimento de que precisamos refletir mais sobre nossa relação com as tecnologias digitais. É necessário enfrentar os problemas que os dispositivos trazem, dos aspectos viciantes e uso descontrolado ao conteúdo negativo que circula pela internet. Isso passa, necessariamente, pela educação midiática — pilar que quase nunca aparece nas discussões do momento.
Nas escolas, em casa, nas bibliotecas, centros comunitários ou qualquer outro cenário, a educação contribuirá para que crianças e jovens compreendam a dinâmica dos ambientes digitais, entendam os mecanismos usados por plataformas para capturar sua atenção, discutam abertamente prós e contras da tecnologia e tornem-se sujeitos bem informados para minimizar os riscos e maximizar as oportunidades que se apresentam.
Quando a discussão se limita ao proibir, temos a impressão de que todos os problemas serão automaticamente resolvidos a partir de uma certa idade. O risco é olhar de forma muito simplista para um problema complexo que demanda, sim, um conjunto de iniciativas, incluindo o letramento digital e midiático.
Há quem defenda que o foco, agora, deve ser a proibição para “estancar” o problema. Até para limitar o uso de smartphones, no entanto, a educação seria uma grande aliada: crianças e adolescentes mais conscientes dos riscos a que estão expostos podem contribuir com ideias e na mobilização em prol de um uso mais equilibrado, responsável e seguro de qualquer tela.
Precisamos unir forças para que toda a sociedade (incluindo os adultos) se eduque, capacitando-se para enfrentar os desafios e aproveitar o que as tecnologias digitais têm de melhor.